Entrevista: Peppino D'Agostino

Natural de Itália, mas radicado, desde os anos 80, nos Estados Unidos, Peppino D’Agostino é um nome de referência no cenário da guitarra acústica, tendo chegado a vencer o prémio Best Acoustic Guitarist da conceituada revista Guitar Player. Em Penumbra, apresenta o seu mais intricado e complexo trabalho de sempre. Aqui fica a conversa que tivemos com o guitarrista que passa em revista a sua carreira, analisa Penumbra, fala dos diferentes compositores com quem trabalhou e que, no final,  ainda nos surpreendeu com uma resposta em português.

Olá Peppino, obrigado por concederes esta entrevista a Via Nocturna! Para quem não conhece o teu trabalho, podes falar um pouco da tua carreira?
Olá! Obrigado pela tua consideração! Eu comecei a tocar guitarra em Itália, quando tinha 10 anos de idade, depois de ver o meu primo a tocar algumas músicas dos Beatles. Depois de aprender os primeiros acordes maiores e menores estava viciado neste belo instrumento! Sou autodidata e tive sempre um enorme apetite por aprender novas técnicas e estilos musicais. Compus a minha primeira peça para guitarra quando tinha 11 anos e continuo a escrever a minha própria música até hoje. Comecei a ser pago para executar quando tinha 18 anos, tocando em bares, festivais e clubes em Torino. Em meados dos anos 80 mudei-me para a Califórnia, porque estava interessado nas possibilidades e oportunidades que os EUA tinham para oferecer. Depois de tocar nas ruas de San Francisco e em vários restaurantes no Cais dos Pescadores liguei-me ao meu primeiro agente que me consegui o meu primeiro contrato de gravação. Depois do meu primeiro disco ter saído, comecei uma tournée americana e internacional. Quando olho para trás sinto-me muito feliz com o que fiz e feliz também por ganhar a vida a fazer o que sempre quis e gosto: tocar guitarra!

Ao longo da tua carreira ganhaste vários prémos. Podes falar sobre isso e a influência que tiveram no teu crescimento como guitarrista?
Sim, ganhei o prémio Best Acoustic Guitarist da revista Guitar Player. Certamente, ao ser reconhecido pelo meu trabalho isso deu-me mais entusiasmo e força. Mas também é um desafio pois as pessoas que agora vêm aos meus espetáculos esperam um desempenho com um nível cada vez mais elevado! Isso mantém-me ocupado a trabalhar e a continuar a ser um estudante de música!

E acabas de lançar um novo álbum. Como foi toda a sua preparação?
Este álbum é, seguramente, o mais difícil que eu fiz até agora de um ponto de vista técnico e tive que me preparar com muito cuidado para a gravação. Compus peças que refletem o meu amor pela disciplina e a complexidade arquitetónica da música clássica. Também tive a sorte de ter a lenda da guitarra brasileira e vencedor de um Grammy, Sérgio Assad que escreveu duas composições lindas para mim.

Desta vez, estás sozinho, o que não aconteceu no teu disco anterior, quando tocaste com a Pacific Guitar Ensemble. Em que situação te sentes mais confortável?
Tocar com a Pacific Guitar Ensemble é uma experiência completamente diferente do que tocar a solo. Na PGE sou um de seis guitarristas a tocar peças individuais que combinados dá os resultados que queremos. Com PGE é muito importante ouvir cada um, a forma como tocamos e coletivamente alcançar o nosso objetivo comum de executar uma peça. Quando eu toco sozinho tenho que fazer as linhas de baixo, as melodias e os efeitos percussivos sozinho. Além disso, a luz incide apenas sobre mim e tenho que entreter o público apenas por mim!

Penumbra é o título deste teu novo álbum. Será por ter um sentimento mais obscuro?
Pode dizer-se isso. Penumbra é a parte mais clara da sombra e na minha opinião reflete a condição humana. Em geral vivemos na Penumbra, não no escuro, nem na luz. Não somos santos nem diabos. A maioria de nós apenas tenta ser melhor, mesmo com todas as nossas deficiências e fragilidades humanas. Felizmente a música tem sido o grande consolador e uma inspiração desde o início dos tempos e a grande aliada da humanidade.

Desta vez é um álbum todo instrumental, não é?
Sim, todos temas instrumentais com guitarra.

Algumas canções são escritas por ti, mas também tens algumas escritas para ti por outros compositores. Como se proporcionaram essas colaborações?
Conheço todos os compositores pessoalmente e somos amigos. Sinto-me com muita sorte em conhecer génios da guitarra como Roland Dyens e Sérgio Assad! O Sérgio toca guitarra de cordas de nylon, mas também gosta do som da guitarra acústica que é o instrumento que eu toco. Acho que ele se inspirou para escrever por causa da sustentação do meu instrumento e da minha maneira de tocar.

E é fácil para um guitarrista colocar o seu próprio sentimento numa canção escrita por outros? Como fazes nestes casos?
Quando escolho uma peça escrita por outra pessoa, tenho que sentir uma ligação emocional e cerebral com a música. Estou muito perto do material tocado em Penumbra e quando tocar essas músicas em palco, sinto-me emocionalmente muito perto dessas composições.

Quais são as tuas principais influências como guitarrista?
Pop music, música brasileira, irlandesa, clássica, jazz, flamenco, bandas sonoras de filmes, música da Sardenha, ragtime, country, minimalista, barroco para mencionar apenas alguns...

Sei que tens tido várias datas nos EUA. Como tem sido a receção das novas músicas e a expetativa para os próximos espetáculos?
Estou verdadeiramente impressionado com os meus fãs! Eles entendem a minha viagem como músico e estão a receber este novo CD com entusiasmo, mesmo que o material requeira mais atenção. Os meus ouvintes estão abertos para desafios e uma das minhas missões é educar e mostrar que há mais na música do que simplesmente pirotecnia e truques! Dou importância às melodias, harmonias e ritmos que fluem de forma interessante neste CD. As técnicas difíceis que uso para alcançar os meus objetivos estão apenas a servir a música.

Bem, foi um prazer conversar contigo. Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores ou para os teus fãs?
Vamos manter este mundo seguro e espalhar o dom da verdadeira música em torno de todos vocês.

Muito obrigado!
[em português!] Obrigado pela oportunidade e espero encontrar-te um dia em Portugal

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