Entrevista com Maninfeast

Em primeiro lugar gostava que apresentassem os Maninfeast e fizessem um pequeno balanço da vossa carreira até agora.
Os ManInFeast nasceram em Lamego, por meados de 2008, um pouco como um desejo de evolução de outros projectos iniciados pelos actuais integrantes e rapidamente adquiriu contornos de maior seriedade. Desde cedo nos demos conta que apesar de oriundos de universos musicais distintos essa seria a nossa principal força criativa e que o caminho a seguir indubitavelmente passaria pela fusão das influências pessoais de cada um naquilo que iríamos compor. Foi com estes parâmetros inconscientemente estabelecidos que partimos de imediato para a concepção de um primeiro registo sem o tormento do comum dilema da procura de uma identidade específica. Sabemos os riscos que tal tentativa de descomprometimento acarreta, contudo, apesar de sermos um colectivo recente, as primeiras reacções obtidas têm sido bastante positivas.

How One Becomes What One Is acaba de ser editado. Que objectivos se propõem atingir com este trabalho?
Este trabalho representa para nós o primeiro passo no estabelecimento de um contacto inicial entre o público e tudo aquilo que tentamos que a nossa música contenha e exprima. É para nós de extrema importância pensar em cada tema como uma mensagem, implícita e não explícita, que deixamos em aberto para assim puder ser apropriada individualmente. Embora estejamos conscientes de que esta intenção possa ser em parte uma utopia, é sobre estes moldes que nos construímos não só como músicos mas essencialmente, e em primeiro lugar, também como pessoas, o que nos deixa apenas a solução de continuarmos fiéis a nós próprios.

Como decorreu o processo de gravação? Estão totalmente satisfeitos com o resultado final?
Aconteceu tudo de forma muito natural mas podemos dizer que alguns dos temas acabaram por amadurecer já em estúdio, tornando-se mais consistentes devido à necessidade de efectuar certas escolhas que o experimentalismo da sala de ensaios não teria nunca levantado. Neste campo em particular a escolha do Guilhermino Martins para nos acompanhar em todo este processo revelou-se extremamente frutífera, quer pela sua experiência como produtor como pela amplitude musical que faz questão de partilhar. Pese embora o facto de desejarmos continuar a crescer, o resultado obtido traduz aquilo que somos no presente momento e, como tal, não poderíamos estar mais satisfeitos.

Em termos líricos, o álbum apresenta uma forte conotação filosófica. Podem esclarecer essa situação?
Em vez de conotação filosófica preferimos chamar-lhe de literária. Filosofia faz qualquer ser com auto-consciência. Desde logo a nossa vontade foi a de criar um álbum que valesse não só pelas músicas individualmente mas pelo seu todo, o que, de certa maneira, tornou indispensável almejarmos uma ligação a nível musical e lírico-conceptual: o álbum recria o cenário da jornada espiritual de um homem sedento de auto-conhecimento, desde o processo de iniciação ao caminho propriamente dito. Desta forma, o trabalho encontra-se estruturado em 3 momentos cruciais: introspecção, revelação e assimilação, cada um destes estágios sustentados por influências literárias. Quisemos dar um toque pessoal ao tratarmos estas influências através de interpretações muito próprias, nomeadamente, tentando interligar a teoria do eterno retorno com o amor fati de Nietzsche, e estes ao processo de iniciação referido no livro A Voz do Silêncio de Helena Blavatsky, bem como, a pensamentos e citações encontradas no trabalho de Keynes que, quando descontextualizadas, compreendemos que formariam um modelo, de reformulação do pensamento, no qual facilmente se encaixavam estas peças. No entanto, todas estas influências são usadas como um instrumento e não um fim último, sendo que, gostamos de olhar para elas como peças de um puzzle cujo ouvinte poderá montar como a sua intuição lhe indicar ou como um convite a ver um filme em que a história se desenrola conforme a sua própria percepção.


Em termos musicais notam-se muitos estados de espírito contraditórios. Seguramente que esse era o objectivo, mas de que forma é que os Maninfeast fazem a gestão desses pormenores na altura de compor?
Antes de mais, nós não os entendemos como contraditórios mas, na verdade, antes como complementares pois são expressões de uma só entidade que se vai metamorfoseando ao longo do seu percurso. Quanto à gestão destas nuances, elas assentam num método de trabalho de experimentação que decorre espontaneamente entre nós e que consiste, basicamente, em costurar retalhos até obter um produto final que satisfaça todas as partes. Muitas vezes, é também durante este processo que os temas vão ganhando personalidade própria o que nos leva a abdicar de certas ideias primárias. Trata-se, portanto, de um processo de aproximação, por assim dizer, no qual de uma forma bastante intuitiva vamos compondo sons, acrescentando texturas e trabalhando as camadas sucessivas que vestem cada tema. Metaforicamente falando, podemos dizer que é uma abordagem de dentro para fora: definimos uma estrutura, temos uma ideia abstracta do que queremos atingir e a partir daí começamos a tentar materializá-la.
Que acções estão a ser preparadas para a promoção do vosso trabalho?
Neste momento, apesar de já nos termos estreado num concerto de apresentação do nosso trabalho, estamos a preparar os temas que gravamos e a construir outros novos de forma a estender o nosso tempo de actuação ao vivo. Paralelamente, estamos também a estruturar a nossa agenda de concertos referentes aos primeiros meses de 2010 cujas datas serão brevemente anunciadas. Para além disso, temos vindo a desenvolver todo um trabalho de divulgação online que achamos essencial, principalmente através de plataformas como o Myspace, Facebook,
Last.fm ou Youtube, estabelecemos contacto com algumas rádios online, nacionais e internacionais, fazendo já parte das playlists de algumas delas e continuamos à espera de críticas que nos permitam obter algum feedback mais incisivo sobre o que temos por agora para mostrar. Gostaríamos de terminar esta entrevista agradecendo o interesse demonstrado pelo nosso trabalho e esperamos que não tenhamos sido demasiado extensos. Deixamos ainda uma nota de rodapé para todos: mantenham-se curiosos.

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